quinta-feira, 27 de junho de 2013

O SOL QUE REVELA O MUNDO ( Parte 4) Libertação



O domínio paterno, no entanto, era soberano e Arthur Schopenhauer não se sentia à vontade para pedir para sair. Heinrich morreu em 1805, sob suspeita de suicídio, quando Schopenhauer tinha 17 anos e sua única irmã, Adele, era uma menininha de oito anos. Mesmo depois da morte do pai, o filho não conseguiu se ver livre dessas amarras para projetar sua vida. Sentia-se moralmente obrigado a seguir a determinação paterna.

Já Johanna, que havia se casado aos 18 anos, não demorou para tirar as amarras e programar sua nova vida de viúva. Não se casou nunca mais, no entanto, levou a vida livre e regada de festas e saraus em Weimar, onde recebia os grandes artistas da época, entre eles, Schiller e Goethe.

Foi a mãe que o desobrigou do fardo de seguir o que o pai determinara. E aos 19 anos, Schopenhauer se sentiu livre para fazer os estudos que o levaria para o topo da cadeia intelectual. Mas o conflito com a mãe, a quem ele culpava pela morte do pai, seguiu até o fim, em meio a uma desconfiança geral sobre as mulheres.

Brilhante e brigão, “bastante desembaraçado com seus punhos”, ou seja, arruaceiro, Schopenhauer seguiu sua vida entre os estudos de Platão, Kant e, quando já escrevia sua tese de doutorado, os Upanishads, criando inimizade com Deus e o mundo. Foi implacável com todos que se punham a sua frente.

Quando completou 21 anos, recebeu a herança do pai e passou a viver de renda até o fim da vida, podendo se dedicar full time à sua filosofia, grandiosa e profunda, que dava crédito à arte como único caminho capaz de livrar o homem do massacre da vontade. A mesma arte que sua mãe havia condenado. Morreu em 1860, aos 72 anos.

Schopenhauer – e os anos mais selvagens da filosofia é um farol que lança luz sobre um dos pensadores mais ilustres e aguçados do Ocidente de todos os tempos. Safranski soube costurar bem a vida do filósofo e seu tempo, apontando as influências e as negações, mostrando como os filósofos se envolvem com o mundo e como o transformam. Schopenhauer foi um desses grandes transformadores.

(Gilberto G. Pereira. Publicado originalmente na Tribuna do Planalto em 24/06/2012)



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